segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A comunicação ao serviço do desenvolvimento

Os meios de comunicação são poderosas ferramentas que podem ser usadas em favor de causas sociais. Através da rádio e da televisão podemos chamar a atenção para o problema da pobreza, para a necessidade de prevenir as doenças graves, para o apoio a dar aos mais fracos da sociedade, e estes meios têm a capacidade de ampliar a mensagem e levá-la a milhares de famílias. A comunicação é também veículo das soluções – podemos divulgar o exemplo de pessoas e instituições que dão respostas inovadoras, convocar para campanhas de saúde ou de angariação de fundos, e para a mobilização social que pressione os políticos a tomar medidas mais justas. Para falar sobre a importância da comunicação, o Luso Fonias conta com a participação de Geraldinho Vieira, jornalista brasileiro e vice-presidente da Agência de Notícias dos Direitos da Infância.

Na opinião do P. Tony Neves:
«A televisão entrou nas nossas casas e mudou as nossas vidas. Em muitos casos é ela quem define os nossos horários. Traz notícias boas e más, forma e deforma, apela à vivência da fraternidade ou incentiva ao ódio. É um meio poderosíssimo capaz do melhor e do pior. Por isso, há que conhecê-la e respeitá-la. Há que saber utiliza-la. Há que boicotar o que ela traz de desumano e imoral. Celebrar o Dia Mundial da Televisão é um exercício de responsabilidade e de cidadania. Sabemos que hoje a televisão é quem fabrica as figuras públicas, a ponto de só existir quem passa por elas...mas a televisão assenta no passageiro, no superficial. Sabemos que a televisão vive dos dinheiros públicos ou da publicidade. Quando um governo paga, regra geral, instrumentaliza-a e controla-a. Quando a publicidade paga, as empresas exigem audiência e esta só é alta quando as pessoas vêem os programas. Como consequência, as grelhas apostam em programas de fraca qualidade onde se exploram os instintos mais baixos da condição humana e onde o lado formativo e ético quase nunca tem lugar cativo no ecran. Não sou pessimista em relação ao poder e impacto das televisões na vida dos cidadãos. Acho que elas podem ajudar muito, informando, formando e divertindo. Também podem ser excelentes instrumentos ao serviço de uma cidadania responsável. E é por aí que temos que ir. Devemos não pactuar com uma programação de baixa qualidade. Devemos ajudar a criar condições para que os valores humanos e fraternos tenham direito de cidadania nas televisões. O mundo não pode desperdiçar o potencial destes meios de comunicação social. Estes têm de estar ao serviço da construção de sociedades justas e plurais. Trabalhemos por isso que o mundo vai ficar melhor.».

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Angola: Oportunidades e Desafios

Com o final da guerra civil em 2002, Angola arrancou para um novo ciclo marcado por um forte crescimento económico, sustentado principalmente pelo aumento das receitas associadas ao petróleo, a reconstrução de infra-estruturas produtiva e o realojamento de cerca de 4 milhões de deslocados internos. Na semana em que Angola comemorou 35 anos de independência, contamos com a presença de Carlos Pacatolo, responsável pela Área Social da Administração Regional do Lobito.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Angola celebrou neste 11 de Novembro os 35 anos da sua Independência. Não há dia nenhum em que Angola não esteja no meu coração e minha boca. Vivi lá seis anos e nunca mais de lá saí. Acompanho o que se lá vai passando. Tenho ido lá nos últimos anos, o que me permitiu acompanhar o desenvolvimento do pais após o cessar fogo de 2002. Angola é, de facto, um país em obras. Basta chegar a Luanda para o perceber. E se tivermos a oportunidade de fazer uma viagem que ligue duas capitais de Província vemos logo que tudo mexe. Mas também salta aos olhos que há injustiças gritantes entre quem tem tudo e quem não tem nada, entre os centros das cidades e as paupérrimas periferias, entre o litoral desenvolvido e o interior abandonado. A celebração da independência, a 11 de Novembro, é sempre um excelente pretexto para se avaliar o caminho feito e o muito que há por fazer em ordem á construção de um país reconciliado, desenvolvido, justo e solidário. O P. António Moreira viveu 50 anos em Angola, desde o tempo colonial, passando por toda a guerra civil e mantendo-se até agora por terras do Kuito. Em artigo a publicar brevemente, este grande missionário fala de um Kuito desenvolvido em contraste com um interior abandonado. E vai mais longe e mais fundo na sua avaliação da situação em que vive o povo angolano: ‘Falta o mais importante: a reconstrução espiritual e psicológica. Houve, em tempos passados, uma montagem para a guerra. Assistimos a acções, palavras, atitudes, retaliações, mau uso dos meios de comunicação social que podiam levar ao ódio, à vingança, à guerra. Agora há que desfazer esta montagem de ódio e, pouco a pouco, reconstruir uma cadeia com elos de justiça, reconciliação, perdão, tolerância, amor e paz. A Igreja precisa de estruturas físicas para realizar a sua Missão, mas é no campo da reconstrução psicológica e espiritual que ela deve exercer a sua acção. É neste campo que ela tem de se lançar com todo o entusiasmo’. Parabéns, Angola».

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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

2 anos do Presidente Obama

A 4 de Novembro de 2008, Barack Obama tornou-se o primeiro presidente americano de origem africana. Com o slogan “Yes, we can” – “Sim, podemos”, Obama foi fonte de esperança para muitos americanos e não só. Em contraste com a política de Bush, seu antecessor, promoteu a retirada do Iraque e do Afeganistão, o encerramento da prisão de Guantánamo e o reforço da protecção social pelo Estado americano. No entanto, algumas destas promessas estão ainda por cumprir e Obama viu a sua popularidade posta em causa esta semana, quando o Partido Republicano, seu opositor, obteve a maioria na Câmara dos Representantes. Para fazer o balanço da primeira metade do mandato de Barack Obama, o Luso Fonias conta com a participação de Armando Marques Guedes, professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Foi há dois anos. Barack Obama foi eleito Presidente dos Estados Unidos e o mundo viu a história a mudar. Pela primeira vez, a América seria governada por um cidadão de origem africana. Esperava-se que esta grande potência mudasse a sua postura em relação ao resto do mundo. Habituamo-nos a ver um país arrogante e autoritário, gerindo interesses, esmagando potenciais adversários. As entradas á força no Afeganistão e no Iraque deixaram má imagem na governação americana e criaram inimigos de estimação um pouco por todo o mundo, sobretudo nos espaços de influência árabe. Já passaram dois anos e pouco se vê de mudança de atitude. Muitas promessas, poucos compromissos. O mundo afogado nesta crise profunda que esmaga os mais pobres, precisava de ver os grandes países a dar uma mão, a tomar medidas sérias de combate á exploração dos mais pequenos e dos mais pobres. Mas pouco ou nada se vê. As relações internacionais continuam a ser comandadas por interesses e não pelo respeito que as pessoas merecem. Isso é triste, é degradante, é desumano...e os países grandes têm muitas culpas no cartório. Nova Iorque acolheu a Cimeira de Avaliação dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Esperava-se que, nos últimos dez anos, os países mais ricos dessem 0,7% do PIB para apoiar o desenvolvimento dos países mais pobres. E não deram. Nem os Estados Unidos cumpriram esta promessa. Com esta atitude de desprezo dos mais pobres, o mundo não será nunca um espaço de justiça e fraternidade. E sabemos que muitos dos focos de violência e guerra nascem das injustiças gritantes de que as populações são vítimas. O Médio oriente é, neste momento, a parte do mundo onde há mais interesses em jogo e mais injustiça na distribuição das riquezas, sobretudo dos lucros provenientes da exploração do petróleo. Sim, nós podemos mudar o mundo. Mas, para tal, a justiça e a solidariedade não podem estar fora das agendas dos políticos. Pelo contrário, têm de ser gravadas nos seus corações».

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A Crise Económica

Desde 2007 que se fala na crise, que teve início nos Estados Unidos e rapidamente se espalhou à Europa. Da redução de actividade no sector imobiliário ao aumento do desemprego, várias foram as consequências deste fenómeno, ao qual os Governos tentam responder com cortes orçamentais e aumento de impostos. Mas esta fase pior da economia pode ser também um desafio a pensarmos novos padrões de consumo que não passem pelo endividamento excessivo. Para nos explicar os contornos da crise actual, o Luso Fonias conta com a participação de Carlos Almeida Andrade, economista-chefe do Banco Espírito Santo.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Crise é uma espécie de palavra mágica, usada sempre que a vida não corre bem. É uma palavra que está na moda, ocupando largos espaços nos discursos dos políticos e nas bocas da comunicação social. Foi a 24 de Outubro de 2008 que o mundo inteiro viveu um pesadelo: a ‘sexta feira negra’, que marcou o início da Crise do Crédito, considerada pelos especialistas como a maior crise económica mundial desde a grande depressão do início do século XX. Dai para cá, nunca mais a economia do mundo se ergueu e os terríveis efeitos desta crise estão a vitimar sobretudo os mais pobres. Mas nem todos estão de braços cruzados. Recordo, por exemplo, que o Cardeal Patriarca de Lisboa, a 17 de Abril de 2009 convocou mais de duas centenas de sacerdotes e leigos das Instituições de Caridade, para lançar o Projecto ‘A Igreja Solidária’, que visava encontrar respostas concretas para a crise, potenciando todas as instituições da Igreja para que ninguém passasse sem as condições mínimas necessárias a uma vida digna. Este Projecto desenvolver-se-ia em três fases: 1ª fase: procurar que a ninguém falte o “pão para a boca”; 2ª fase: ajudar a criar postos de trabalho e “ocupação” para desempregados; 3ª fase: criar uma rede de equipamentos para pessoas idosas. D. José Policarpo, na conclusão da reunião, disse aos presentes que uma coisa a Igreja pode fazer bem feita: acolher as pessoas. O Simpósio ‘Reinventar a Solidariedade’, que juntou mais de mil pessoas na FIL, em Lisboa, a 15 de Maio de 2009, foi o pretexto para uma reflexão e partilha sobre as raízes da situação em que vivia Portugal (e o mundo) e a procura de caminhos novos que voltem a ‘inventar’ a solidariedade. Na hora de concluir, disse-se: A lógica de uma civilização do ‘ter’ tem de ceder o lugar a uma civilização do ‘ser’. Há que construir um novo modelo civilizacional onde a lógica não seja a da abundância, com os pobres a comer as migalhas que caem da mesa dos ricos. A actual crise é política, civilizacional, ética, moral e espiritual. Por isso, a solução não é económica. Há que, como disse o Cardeal Maradiaga, combater uma forma de estar no mundo onde a ganância coloca à margem da história muitas pessoas e está a produzir a exclusão. Um ano e meio depois, olhamos para o mundo e vemos que a crise se agudiza. É, por isso, urgente atacar as suas causas, para construirmos uma sociedade onde nos apeteça viver».

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Voluntariado Jovem

Ao constatar que havia um grande potencial de participação dos jovens nas suas comunidades que não estava a ser utilizado, a organização não governamental Tese lançou este ano o projecto Do Something, que procura juntar as necessidades de várias instituições à disponibilidade dos jovens para ajudarem na sua comunidade. Com base numa página de internet, este projecto tem motivado muitos jovens a tornarem-se cidadãos mais activos através do voluntariado. Para nos explicar em que consiste o projecto Do Something, o Luso Fonias conta com a participação de Virgílio Varela, Coordenador do projecto.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Trata-se, a meu ver, da Revolução mais silenciosa que se opera na Igreja em Portugal nos últimos 20 anos. Refiro-me ao Voluntariado Missionário. Foi em 1988 que um grupo de Jovens Sem Fronteiras foi enviado ao interior da Guiné-Bissau para cavar os alicerces da Escola Sem Fronteiras de Caio – Tubebe, no meio da etnia manjaca. Foi uma experiência de interacção com as populações com quem partilharam dias felizes e iniciaram uma relação missionária que se mantém ainda hoje, aprofundada com a construção posterior das Missões dos Espiritanos e das Espiritanas e com a ampliação da Escola. Foi nesse mesmo ano de 1988 que o primeiro grupo de Leigos para o Desenvolvimento montaram a sua tenda em terras de S. Tomé e Príncipe para nunca mais de lá saírem. E depois partiram para Moçambique, para Timor, para Angola. Acho que o Voluntariado Missionário é uma revolução na missão da Igreja por diversas razões. A primeira é porque se dá um legítimo protagonismo aos leigos que também têm o direito (e o dever) de partir para aquelas que foram chamadas as ‘linhas da frente da Missão’, outrora um exclusivo para membros consagrados de Institutos Missionários; o voluntariado missionário está a fazer uma revolução na Igreja porque envolve maias as famílias, as sociedades e as comunidades paroquiais. Quando partia o padre ou a Irmã, quase só o Instituto e os familiares directos davam por isso. Hoje, com a partida de leigos, as famílias sentem-se envolvidas, umas apoiam e outras colocam dificuldades, mas o certo é que ninguém fica indiferente. E – talvez o mais significativo – na hora do regresso, a partilha do testemunho e o envolvimento de familiares e amigos em projectos, faz com que a missão fique mais próxima das pessoas. O anúncio deste Evangelho libertador de todas as formas de opressão ganha um impacto mais forte quando os leigos se envolvem de alma e coração e levam para a missão o que sabem fazer e a fé que lhes vai no coração. O Voluntariado Missionário é, na actualidade, um dos rostos mais visíveis da intervenção criativa da Igreja na evangelização, sobretudo com a participação dos jovens. Hoje há cerca de 40 instituições que preparam, enviam e acolhem no regresso Leigos (jovens e menos jovens) que partem em Missão. A Fundação Evangelização e Culturas revelou que, este verão, partiram 360 Leigos para a Missão lá fora. E foram muitos mais os que fizeram Missão cá dentro. Há uma nova onda missionária que não rebenta com a antiga, mas ajuda a aumentar o dinamismo no mar da Missão hoje».

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Rede Fé e Desenvolvimento

Com base na Doutrina Social da Igreja, que incita à participação na transformação do mundo, a Fundação Evangelização e Culturas criou em 2009 a Rede Fé e Desenvolvimento. Esta Rede tem trabalhado com várias dioceses e movimentos da Igreja Católica, promovendo uma reflexão sobre os temas do Desenvolvimento e mobilizando esses grupos para serem mais activos na discussão de problemas globais, como o cumprimento dos Objectivos do Milénio ou as alterações climáticas. Para nos explicar em que consiste a Rede Fé e Desenvolvimento, o Luso Fonias conta com a participação de Margarida Alvim, Coordenadora da Rede.

Na opinião do P. Tony Neves:
«A Rede Fé e Desenvolvimento nasceu para ajudar a Igreja e a sociedade a perceber a importância dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM) em que os Governos sem comprometem a reduzir a pobreza do mundo para metade até 2015. Trata-se de um projecto apoiado pela Campanha do Milénio das Nações Unidas, que pretende sensibilizar e mobilizar a Igreja Católica para as questões do desenvolvimento, actuando no mundo e em diálogo com as outras confissões religiosas e restante sociedade civil. Uma das últimas iniciativas foi a de acompanhar por dentro a Cimeira da ONU para a avaliação dos ODM, que se realizou em Nova Iorque a 27 e 28 de Setembro. A Margarida Alvim, que coordena esta Rede criada no âmbito da Fundação Evangelização e Culturas, aceitou esta missão como um desafio, como explicou: ‘este trabalho contribui, mais uma vez, muito para o meu próprio desenvolvimento, como cidadã e como crente. Só tenho a agradecer a Deus e à FEC esta oportunidade. A Rede Fé e Desenvolvimento transporta-me para o Mundo’. Trabalhar em Rede é hoje um imperativo. Ninguém faz nada sozinho e os problemas do mundo têm tal dimensão que só unindo esforços e corações se podem tentar resolver. Por isso, a Margarida Alvim acredita que a missão da Rede Fé e Desenvolvimento lança desafios à Igreja: ‘Ela deve ter uma voz mais activa e forte no exercício da sua cidadania. Porque tem autoridade para o fazer, porque faz parte da sua Missão e porque como crentes, temos a obrigação acrescida de intervir na construção de uma sociedade mais justa, e isso passa pelo acompanhamento das políticas, pela acção, pela sensibilização, pelo desmascarar injustiças, pelo fazer pontes’. Percebemos, pelos resultados da Cimeira, que a Pobreza ainda está para durar e o objectivo de acabar com metade até 2015 será mais miragem que concretização. Mas não é tempo de cruzar os braços porque o grito dos pobres continua a ecoar bem alto e bem fundo nos nossos ouvidos de pessoas marados com o carimbo do Evangelho que nos obriga a partir ao encontro dos mais pobres».

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Cooperação Intermunicipal

Há vários anos que se estabeleceram laços de cooperação e partilha de recursos e experiências entre municípios de Portugal e dos países lusófonos. Desta cooperação nasceram vários projectos de construção de infra-estruturas, apoio à educação e à saúde, ou formação de técnicos municipais. É também uma forma de integração das populações imigrantes presentes em Portugal, que assim estreitam laços com os seus países de origem e vêm a sua cultura valorizada. Para nos falar sobre a cooperação estabelecida entre municípios de Portugal e dos países africanos de língua portuguesa, o Luso Fonias conta com a participação da Vereadora Corália Loureiro, da Câmara Municipal do Seixal, que comemora 20 anos de cooperação com o município caboverdiano da Boa Vista.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Criar laços, construir pontes... são sempre objectivos em que vale a pena apostar. Isso pode dar-se entre todos os países (ONU), entre alguns países (União Europeia, União Africana...), entre Dioceses (por exemplo, entre Leiria-Fátima e Sumbe (Angola), entre Paróquias e entre Municípios. É sobretudo destes laços que gostaria de reflectir hoje. Há diversas câmaras municipais de Portugal que estão geminadas com Municípios de outros países do espaço lusófono. Une-as as afinidades entre povos que falam a mesma língua e partilham história e cultura. Estas afinidades são decisivas para que outros projectos de parceria possam ser pensados e implementados. Não há dois municípios iguais, pelo que as geminações têm todas a marca da originalidade que caracteriza cada terra e cada povo. Algumas vezes, um dos Municípios está a passar por um período mais complicado da sua história e a geminação pode ajudar a resolver problemas, seja no âmbito da saúde, da educação ou de âmbito social. Outras vezes, a geminação é pretexto para intercâmbio de pessoas que aproveitam a oportunidade para partilhar culturas e experiências diversificadas que a todos enriquecem. Não se podem perder oportunidades de aproximar povos e culturas, dando uma pequena contribuição para que expressões como ‘fraternidade universal’ não apareçam só em dicionários e enciclopédias. Se todos os lusófonos fizessem mais esforço em gerar sintonias com quantos partilham a língua, parte da história e da cultura, ganharíamos um estatuto diferente à escala do mundo. Somos muitos milhões, mas precisamos de ser mais irmãos. Que o projecto Enlaces, que quer promover mais cidadania e desenvolvimento, mais partilha e encontro dentro do espaço lusófono, seja mais conhecido e mais vivido. Toda a lusofonia, todos os lusófonos vamos ficar mais ricos».

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A arte de ensinar

Ensinar é sempre um desafio. A responsabilidade de transmitir saberes e conhecimentos é desde há muitos séculos uma preocupação da humanidade. Existe todo um património que se deseja perpetuar mas existe também a necessidade de investigar novos saberes e descobrir novas matérias. Desde modo, o ensino é sempre uma janela aberta para novas oportunidades. Para nos falar sobre esta arte de ensinar no contexto mais geral da cooperação e do desenvolvimento, o Luso Fonias conta com a participação do Presidente do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, o Professor Manuel Correia.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Tempos houve em que ser professor era algo que trazia muito prestígio. Lembrava o meu avô que, no tempo da sua infância, a terra tinha três pessoas importantes: o padre, o professor e o doutor. Os tempos mudaram muito de então para cá e ser professor hoje traz mais chatices que louros. Dos tempos em que a disciplina numa sala de aulas era sagrada e a obediência aos professores era intocável, chagamos a uma época em que crianças e jovens quase não obedecem a ninguém e alguns pais até vão questionar os professores quando estes quiserem impor alguma disciplina aos seus filhos. Isto para já não falar de alunos que exercem violência física sobre professores.... Mas no Dia Internacional do Professor não queria falar muito dos dramas que hoje se vive na escola. É bom olhar para o lado mais positivo e para o papel fundamental que a escola continua a exercer na sociedade. Há que investir ainda mais na formação dos professores que os leve a sentir-se em casa quando estão diante dos seus alunos. Bem formados, motivados, vocacionados para leccionar, os professores conseguirão melhor atrair a atenção dos mais jovens e fazer caminhada pedagógica com eles. Há um dado relativamente novo no panorama europeu do ensino superior que gostava de referir hoje: o programa Erasmus. Assim, durante o curso superior, há milhares de jovens europeus que deixam a sua universidade e o seu país e fazem um ano lectivo numa outra universidade e noutro país, com outros colegas e noutro contexto cultural. Há quem aproveite bem esta oportunidade para rasgar novos horizontes, conhecer novas pessoas e culturas, agarrar novos mercados de trabalho. A Educação tem de mudar: nos alunos e nos professores. Há que construir uma mentalidade académica baseada na convicção de que a Escola é decisiva para o futuro das pessoas e dos povos. Quando percebermos isto, tudo o resto se resolverá. Há que dignificar a Escola, em nome de uma educação humana integral».

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Turismo: Potencialidades e Desafios

O turismo é um sector essencial para o desenvolvimento dos países, porque gera rendimento económico e permite o intercâmbio cultural entre visitantes e visitados. Todos os países lusófonos têm para oferecer belas paisagens naturais e praias com potencial turístico, mas será que todos estão bem preparados para receber turistas? Para debater os desafios do turismo nos países lusófonos, no Luso Fonias vamos estar à conversa com a Professora Brígida Brito, do Centro de Estudos Africanos do ISCTE.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Conhecer deve ser sempre um grande objectivo para qualquer pessoa. Devemos criar condições para aumentar o nosso conhecimento sobre o mundo e as pessoas que nele habitam. Vem isto a propósito da comemoração, a 25 de Setembro, do Dia Mundial do Turismo. Quem tem dinheiro aproveita as suas férias para partir rumo a terras que não conhecem a fim de encontrar povos, monumentos e paisagens que encham os olhos e, sobretudo, o coração. Ainda há dias me sentei para ouvir uma amiga contar como foram as suas férias na Tunísia. Um grupo de jovens decidiu programar por conta própria as suas férias e ir, Tunísia dentro, ao encontro de povoações e pessoas que as agências de viagem nunca ajudariam a encontrar. A conversa recaiu sobre a pobreza de muitas pessoas mas, ao mesmo tempo, sobre a alegria genuína, o sentido de festa e de acolhimento que o grupo viveu e sentiu por onde passou. Conto este episódio como poderia contar muitos outros, a provar que o encontro de povos e culturas poderá ser sempre um enriquecimento mútuo. Mas falar de Turismo obriga a referir o fosso abissal entre ricos e pobres, entre os que podem ter férias e conhecer novos mundos e os que nunca saberão o que a palavra ‘turismo’ quer dizer. De qualquer forma, é muito importante estimular o que de mais lindo o conceito ‘turismo’ traz dentro de si: a possibilidade de entrar noutros mundos e noutros corações e isso não exige dinheiro: requer apenas disponibilidade interior para escutar e partilhar. Os tempos de crise que vivemos obrigam a cortes orçamentais no que não é essencial e, neste aspecto, o turismo sofre. A criatividade é, por isso, chamada ao palco, e é impressionante ver as ginásticas orçamentais que algumas pessoas fazem para, mesmo gastando pouco, poderem fazer esta experiência de entrada noutras terras, noutros mundos, no coração de outras gentes. Há que fazer tudo por tudo para que o mundo seja a casa de todos e em todos os lugares do mundo as pessoas se sintam em casa».

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Alzheimer: como lidar com a doença

Esta é uma doença que afecta milhões de pessoas em todo o mundo. Estudos recentes alertam para o facto de que na nossa sociedade cada vez mais envelhecida, este número aumentará ainda mais nos próximos anos. O doente com Alzheimer vai progressivamente perdendo as suas faculdades, tornando-se cada vez mais dependente de outros. A interacção com os doentes, os possíveis tratamentos, as causas e efeitos da doença são alguns dos temas do Luso Fonias que conta com a participação do Dr. António Oliveira Costa da Associação Alzheimer Portugal.

Na opinião do P. Tony Neves:
«A medicina está muito avançada na detecção das doenças e no combate contra muitas das enfermidades que atacam as pessoas hoje. Isto é óptimo, sinal de que a inteligência que Deus nos deu está a ser posta ao serviço do bem. Mas, como todas as medalhas, esta tem um reverso. Muitas pessoas vivem muitos mais anos do que viveriam antigamente, graças aos avanços da medicina e, por isso, também muitas delas mostram mais e por mais tempo os limites da nossa condição humana. Um dos sinais mais dolorosos dos tempos que correm é a doença de Alzheimer que faz com que algumas pessoas mais idosas percam qualidades de memória e inteligência, ficando, pouco a pouco, muito dependentes a todos os níveis. A situação torna-se dolorosa pois percebemos que pessoas muito queridas, simpáticas e activas ficam baralhadas, desajustadas do mundo e a precisar de cuidados 24 horas por dia. Sendo pessoas importantes para nós, a fragilidade que demonstram causa um enorme sofrimento. Diante de doentes com Alzheimer, as famílias tomam diferentes decisões: tentam encontrar uma instituição que os receba e acompanhe até á morte, processo lento e de progressiva perda de qualidade de relação e de autonomia; outros fazem um esforço enorme para criar condições de manter essa pessoa querida no círculo da família, até à morte. Todas as decisões que levem familiares a passar o fim dos seus dias fora do contexto onde viveram são dolorosas. E ainda bem, pois é sinal de que os nossos familiares valem muito e a nossa relação afectiva é intensa. Mas, na hora das grandes decisões, às vezes, pesa mais o factor económico do que o afectivo; outras vezes, a decisão olha mais à libertação de um peso do que ao assumir a debilidade humana como algo de natural à nossa vida, situação pela qual quase todos iremos passar. Neste Dia Mundial dos doentes com Alzheimer façamos um esforço para olhar para eles como pessoas que viveram connosco e para nós e que, no fim da vida, têm uma doença que exige paciência, carinho e acompanhamento da nossa parte. As pessoas valem pelo que são e não pela saúde que têm. Que o amor não nos falte quando mais urgente é a sua presença. Com amor, seremos todos mais humanos».

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Terrorismo e instabilidade nas relações internacionais

Nove anos após o atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque, o Luso Fonias procura compreender melhor o impacto deste acontecimento no xadrez das relações internacionais. As alianças entre Estados no combate ao terrorismo e as medidas de segurança impostas para fazer face a um inimigo que pode aparecer quando menos se espera vão ser tema de conversa naquela que é a edição número 200 do Luso Fonias. Para nos falar sobre o terrorismo no quadro das relações internacionais, o Luso Fonias conta com o Prof. Carlos Gaspar, director do Instituto Português de Relações Internacionais.

Na opinião do P. Tony Neves:
«11 de Setembro fica para a história da humanidade como um dia de tragédia e de reflexão sobre a forma como as pessoas se relacionam e se respeitam…ou não. A destruição das Torres Gémeas de Nova Iorque representa uma destruição muito maior: a da confiança nas pessoas e nas instituições, a da segurança que o mundo percebeu que não existe mais. O mundo depois deste dia mudou muito. Sentimos isso quando viajamos de avião e nos investigam até à sola dos sapatos. Percebemos que os níveis de confiança estão em baixo. Compreendemos que estamos sempre sob suspeita de sermos um terrorista qualquer que chega armadilhado e manda tudo pelo ar. Atribuiu-se o atentado de Nova Iorque ao fundamentalismo islâmico e o mundo abriu guerra aberta a todos os fundamentalismos religiosos. Se calhar, a identificação do problema não foi bem feita. Há que ver as razões profundas dos terrorismos. A forma como o mundo se organiza, como os mais ricos arrasam a dignidade dos mais pobres poderá explicar melhor o aparecimento de grupos que, não tendo nada a perder, atacam os que têm tudo a ganhar. Combater o terrorismo implica um investimento grande no combate à pobreza e na defesa dos direitos humanos. Não faz sentido que o mundo continue a dividir-se entre os que têm mais barriga que jantar e os que têm mais jantar do que barriga, ou seja, entre ricos esbanjadores e pobres sem acesso aos bens essenciais.O diálogo com grupos terroristas é quase impossível. Pena foi que se tivessem reunido condições para que eles aparecessem. Agora já é tarde demais para fazer o que quer que seja. Mas o futuro estás todo em aberto: há que criar mecanismos de justiça social à escala do planeta que não dêem lugar a fanatismos e fundamentalismos. Assim o mundo poderá ser um espaço de fraternidade. Todos vamos ganhar com isso».

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A Internet: o novo espaço de socialização

Nos dias de hoje, a internet assume um papel cada vez mais importante na comunicação entre as pessoas. Não é apenas uma ferramenta de pesquisa de informação mas é cada vez mais um espaço de encontro entre as pessoas, sobretudo através da crescimento exponencial das redes sociais. Hoje é possível encontrarmos na net, como vulgarmente é conhecida, informações de amigos ou até mesmo familiares com quem já não estamos há muito tempo. Criam-se também redes de partilha e de troca de experiência em torno dos meus assuntos ou interesses. Podemos assim afirmar que no mundo contemporâneo este é cada vez mais um espaço de socialização. Para nos falar melhor sobre as redes sociais, o Luso Fonias conta com o testemunho de Tiago Forjaz, um dos fundadores da Star Tracker, a rede social que procura reunir os talentos portugueses.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Até há poucos anos, o mundo dividia-se em ricos e pobres, tendo como critério de catalogação os dinheiros, as terras e outros haveres que as pessoas, instituições e países tinham como sua propriedade. Hoje, na era da informática, há novos poderes e novas riquezas em jogo. Há quem já divida o mundo em info-ricos e info-pobres, ou seja, entre os que têm acesso às novas tecnologias da comunicação e os que dela estão privados. São novas riquezas e novas pobrezas que estão agora em jogo. Nos países mais ricos e nas áreas ricas dos países mais pobres, meio mundo já acede hoje à internet, abrindo portas e janelas ao mundo. Por ela, temos acesso a uma infinidade de sites, por onde tudo (do melhor e do pior) nos pode chegar. Temos também a possibilidade de criar endereços electrónicos que nos permitem mandar informações e receber informações de todo o mundo, em poucos segundos. Quando nos recordamos dos tempos que eram precisos para enviar ou receber uma carta, de Portugal para Angola ou vice-versa, há uns tempos atrás, percebemos a importância da descoberta que constituem os endereços electrónicos. Mais recentemente, chegaram as redes sociais. O facebook e o twitter são hoje meios privilegiados para dar a conhecer informações, partilhar fotos, mobilizar para acontecimentos, convidar para envolvimento em grandes causas. Quando correctamente utilizadas, estas redes sociais põem fazer grandes milagres, resolver grandes problemas, encontrar pessoas perdidas há anos. Mas também pode ajudar a criar redes de bandidos, enganar crianças e adolescentes fazendo-os vítimas de pedofilia, ludibriar jovens e menos jovens, aliciando-os para falsos empregos que os conduzem à escravatura laboral ou sexual, propor negócios que levam a enormes burlas...enfim, o melhor e o pior passam pela internet, pelo que é importante uma séria formação para uma utilização correcta e proveitosa destas tecnologias da comunicação. Por opção consciente, falei sempre da internet como oportunidade e como perigo. É mesmo assim. Os meios de comunicação social são isso mesmo: meios, máquinas. São um potencial enorme, mas os resultados dependem da forma como são utilizados. Eles sem são bons nem são maus. Boas e más são as pessoas que os vão utilizar. Coloquêmo-los ao serviço das pessoas e o mundo vai ser melhor»

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Guerra: Motivos e Consequências

Na semana em que passam 71 anos sobre o início da Segunda Guerra Mundial, o conflito mais sangrento da História, vamos ter a experiência de um jornalista que tem investigado a história recente do mundo lusófono, em particular a guerra colonial e os movimentos de independência dos países africanos de língua portuguesa. Para nos falar sobre a sua experiência de jornalismo de investigação, o Luso Fonias conta com a presença de José Pedro Castanheira.

Na opinião do P. Tony Neves:
«Sempre que falo de guerra eu fico mal disposto. Para mim, ela nunca fará qualquer sentido e constitui sempre uma violação frontal dos direitos humanos. Inventem lá as teorias que quiserem, mas quem viveu intensamente uma guerra, sabe que ela não só não resolve os problemas como ainda os agrava. E mais: nas guerras, as grandes vítimas são sempre as pessoas que nada têm a ver com o assunto. Os senhores que as promovem ficam a beber os seus wiskies sossegados nos seus palácios, enquanto os militares, forçados a combater, se transformam em carne de canhão, nas linhas da frente dos combates. E pior que isso: as populações civis são mortas, deslocadas, violadas, privadas das suas casas, dos seus campos, dos seus empregos, maltratadas e perseguidas. As crianças ficam sem escola, os doentes sem hospitais... um mar de tragédias que, só quem não viveu uma guerra do lado das vítimas, pode apoiar. Mas a verdade é que, se em teoria todos dizem que a guerra é terrível, na prática é a ela que os governos e oposições armadas recorrem para resolver os problemas, sacrificando as populações indefesas, arrastando os países para a bancarrota económica, gerando dívidas que as gerações posteriores terão dificuldades em pagar. Sofri na carne a crueldade e a barbaridade da grande batalha que arrasou o Huambo em 1993. Muito do que vivi nunca contarei a ninguém, mas há dramas indescritíveis que são provocados pelos senhores das guerras e que mostram que o sentido humano das decisões e atitudes está muitas vezes ausente do coração de certas pessoas. A II Grande Guerra Mundial começou a 1 de Setembro de 1939. No fim, criou-se a ONU para que a barbaridade da guerra não voltasse a fazer das suas. Mas a memória continuou curta e o recurso á guerra manteve-se até hoje. Milhões de pessoas, nos últimos anos, foram mortas, feridas, refugiadas, espoliadas de todos os seus bens, separadas das suas famílias, privadas de um futuro com dignidade. Vamos pedir contas a quem deste barbaridade que está instituída e, por isso, aceite como um caminho de solução quando os problemas são grandes ou quando as ganâncias de ter e de poder são desmedidas? O mundo, e quem nele tem poder de decisão, deve pôr a mão na consciência e perguntar porque é que ainda não se encontraram alternativas à guerra? Talvez as grandes empresas que fabricam armas e exercem influência sobre os governos tenham uma palavra a dizer-nos.»

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